Fabíola Ortiz
Especial para o UOL Notícias
Em Nova Friburgo
A cidade de Nova Friburgo, onde moram 200 mil pessoas, viveu horas de terror desde terça-feira à tarde quando chuvas torrenciais atingiram a região serrana do Rio. Friburgo ficou irreconhecível, virou uma cidade deserta. Sem luz, a população refugiou-se aonde e como pôde, muitas vezes a própria casa estava em área de risco ou ameaçada por um deslizamento de terra.
Nesta quarta-feira, em pleno dia útil, a cidade estava completamente paralisada e ilhada. Na estrada da rodovia RJ-116, que leva ao município passando por uma pequena vila chamada Mury, é possível visualizar os impactos da chuva. Os poucos carros que circulam estão todos cobertos de barro, as ruas estão cheias de lama. Já na estrada, há várias quedas de barreiras que obstruem a passagem dos carros. Próximo à Friburgo, um pedaço da estrada desmoronou revelando o que espera mais à frente na cidade.
Assustados com as notícias, um grupo de amigos voltou de Rio das Ostras para Friburgo assim que pôde, pois tinham perdido o contato com a família. “Está sem telefone, sem luz. Antes eu conseguia falar com a minha família, mas agora não mais”, disse um dos jovens que não quis se identificar. O acesso a Friburgo está quase impossibilitado devido à lama e árvores caídas.
Em Angra dos Reis, dois deslizamentos causaram 53 mortes no primeiro dia de 2010, no morro da Carioca, em Angra, e na Praia do Bananal, na Ilha Grande
Temporais no Estado deixaram 257 mortos. Em Niterói, a região mais atingida, 168 pessoas morreram
Na madrugada do dia 7 de abril, um deslizamento no morro do Bumba matou 45 pessoas
A cidade ficou irreconhecível, com praças debaixo de lama, córregos com as grades de segurança levadas pelo lixo e carros dentro de canais arrastados pela correnteza. Com medo do desabastecimento, formaram-se filas nos postos de gasolina, a única forma de se deslocar já que o transporte público não circula.
O primeiro edifício a desabar foi na rua São Roque, em Olaria, um bairro popular. Lá um prédio residencial de três andares desmoronou. Duas pessoas morreram soterradas.
Para a moradora de Olaria, Geneci Souza, de 48 anos, “a cidade ficou um caos”, definiu. “Uma tragédia só. A chuva já fez muito estrago. Estamos sem telefone desde quarta-feira de manhã, e a luz também acabou”.
O casal Roque Moreira Pinto e Marlene Frotté também olhava admirado para os escombros do prédio de três andares. Há 20 anos vivem no Cônego, bairro vizinho de Olaria. “Sempre que chove assusta, a gente fica preocupado. Quando eu morava num lugar perigoso, eu nem dormia à noite. A gente fica apavorado”, descreveu Roque. Já sua esposa afirmou nunca ter imaginado algo parecido.
“Os bombeiros não tem como chegar às casas. Agora temos que economizar a água. Já está difícil de conseguir vela para a noite. Os ônibus não estão circulando. Ninguém pode fazer nada, a cidade está incomunicável”, disse Marlene.
“O meu vizinho está soterrado até agora”, disse Cremilda Castro, que vive na Vila Dom Bosco. Uma casa próxima ao local onde vive desabou. Cremilda estava apressada, pois queria chegar em casa antes que anoitecesse, já que a cidade estava para ficar às escuras sem iluminação pública.
A igrejinha de Santo Antônio, famosa no centro da cidade, localizada na Praça do Suspiro, ficou parcialmente em pé. Um barranco do alto do morro, local onde tinha um teleférico, desabou em cima da igreja. Poucos se atreviam a ver o que havia sobrado da igreja, a lama chegava à altura do joelho. Um carro que tentou cruzar ficou atolado na lama e teve dificuldades para ser guinchado.
No meio do caos, a população tenta se organizar da forma que pode, com a falta de sinalização e com ruas interditadas, alguns moradores resolveram ajudar no trânsito.
A Avenida Itália, uma via de grande movimentação na cidade, estava ilhada pela grande quantidade de lama. O que chamava a atenção é que havia um carro dentro do canal que cortava a avenida. O Gol havia sido arrastado pela forte correnteza na madrugada de quarta-feira quando a água ultrapassou um metro de altura. “Nunca vi nada parecido”, conta Mércia Kienen, que há 13 anos mora num pequeno edifício em frente ao canal onde estava o carro.